A Questão Urbana - Manuel Castells
- Amanda Freire
- 4 de out. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de out. de 2018
Publicada pela primeira vez na França em 1972, a obra “a questão urbana”, inspirada na discussão Lefebvriana sobre o qual já mencionei, abre um olhar estruturalista sobre a problemática das cidades.
Manuel Castells, sociólogo espanhol, cuja tradição científica tem bastante base na herança francesa, é um estudioso que, sinceramente, gosta muito de escrever! Totalizando 590 páginas, a obra traça um debate com o filósofo Lefebvre, pois busca trabalhar com estatísticas, dados empíricos e indicadores, fugindo um pouco das afirmações pouco factuais (era pelo menos o que Castells acreditava fazer), pois se trata de um enfoque na dimensão econômica do processo espacial, e não apenas social. Credita-se a Castells o marco zero dos estudos marxistas sobre o espaço pela ótica estruturalista, diferentemente da ótica humanista de Lefebvre.
Mas e aí? o que significa estruturalismo? Para isso é preciso falar sobre outro camarada de nome Althusser, um inspirador dessa corrente científica nas ciências humanas. Basicamente, mas de forma bem básica mesmo (perdoem a simplicidade), Althusser procurou entender a sociedade a partir das instituições como o Estado, a Família ou a Igreja . Para ele, esses seriam instrumentos normativos da sociedade. Mais tarde os estruturalistas receberão a crítica de terem matado o sujeito, já que para eles as ações individuais são feitas sempre sob a influência dessas grandes estruturas, portanto, não seriam ações inteligíveis.
Mas vamos deixar de enrolar e partir para a problemática das cidades? Pois bem. Castells traz o debate político para o espaço urbano, substituindo a discussão que havia sido focada dentro das fábricas pela ótica marxista, e inaugurando uma teoria econômica urbana. Num modo sistemático de escrita, Castells quer analisar as práticas da política urbana de forma minuciosa, mas já no início da obra ele alerta para a imprecisão, chegando a dizer que “esse trabalho não tem nada de acadêmico” (CASTELLS, 2009, p.36). Digamos que o autor busca reconhecer problemas que chama de “concretos” e busca categorias teóricas adequadas para analisá-los, cada um a seu modo.
Castells defende que o Estado atua em concordância com a lógica privada e contribui para reprodução da força de trabalho. O que isso quer dizer? O Estado reproduz a força de trabalho no espaço urbano a partir da política habitacional. Como o setor privado não é capaz de prover as habitações sociais, então o Estado intervém. Será que agora dá para entender os programas habitacionais públicos que constroem as unidades próximas ao setor industrial? Desse modo, no contexto da acumulação de capital, o Estado também é um ator, mesmo que não seja protagonista (para amenizar o peso da escrita). Assim, o Estado também é parte da estrutura do modo de produção capitalista.
Veja, portanto, que toda a discussão sobre as cidades na sociologia bebe do marxismo. Por esse motivo é tão importante compreender de que forma esse debate evoluiu ao longo dos anos até os dias atuais. Não se trata aqui de adotar uma postura ideológica marxista ou capitalista, mas de compreender como foi possível discutir o problema urbano a partir de diferentes metodologias de estudo das cidades. Estamos falando de um objeto complexo.
A partir dos textos aqui supracitados tenho a intenção de provocar uma reflexão sobre como a cidade foi diferentemente definida pelos campos de saberes das ciências humanas, ou seja, como os conceitos foram pensados e os problemas produzidos dentro de diferentes correntes e escolas, a começar pela escola francesa filosófica e sociológica.
Eu não vou mentir que as 590 páginas sejam tão prazerosas assim de ler. O autor é mais um intelectual erudito e chato que domina os conceitos que usa. E a gente sabe que ele escreve para um grupo de estudiosos que estão dentro do debate da época, mas não custa nada, não é mesmo? Só algumas várias horas.
E como sou teimosa, eu os convido a ler “a questão urbana”, Boa Viagem!
Bibliografia:
CASTELLS, Manuel. A questão urbana. 6 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009.
Adorei a leveza do resumo sobre a obra de Manuel de Castells, amei mais ainda por ter dito que é uma leitura chata, mas necessária, por que também achei o mesmo.