top of page
2257a9e4d642c1b.jpg

Biblioteca da Cidade

Resenhas críticas de obras que ajudam a pensar a cidade enquanto objeto de estudo multidisciplinar, passando por referências bibliográficas em filosofia, história, sociologia e urbanismo.

Início: Bem-vindo
Início: Blog2

Estéticas Urbanas: da polis grega à metrópole contemporânea - Sonia Hilf Schulz

  • Foto do escritor: Amanda Freire
    Amanda Freire
  • 22 de jan. de 2019
  • 3 min de leitura

Depois de dialogar com alguns autores clássicos das discussões sobre as problemáticas urbanas, convém introduzir uma obra escrita por uma pesquisadora contemporânea que se destaca por fazer uma ponte entre a Arquitetura e a Filosofia. Sonia Schulz é professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ e traz, na obra Estéticas Urbanas (2008), algumas influências provocativas do movimento da contracultura de 1960. Esse movimento provocou rupturas no pensamento urbanístico e arquitetônico contemporâneo. Parte dessa ruptura, que deve ter ocorrido em diferentes âmbitos e dimensões do saber, é atribuída aos chamados filósofos da diferença, como Deleuze e Foucault.


E o que seria a filosofia da diferença?


Para começar essa conversa, da forma mais despretensiosa possível, eu diria que a filosofia clássica, em especial aquela que possui bases nos estudos de Platão, é a filosofia da identidade. Nesse sentido, o mundo, ou melhor, a cidade (colocando o urbano no centro dessa discussão) seria compreendida por sua essência, por padrões ideais identificados pela racionalidade humana, padrões esses transfigurados em um domínio de representações que nos é reconhecível, previsível, estável. A cidade conservaria características, e nós nos reconhecemos nelas.


Bom, e o que a filosofia da diferença diz que é oposto a isto? É aí que alguns filósofos do movimento da contracultura surpreenderam ao lançar um pensamento novo:


E se for pelas diferenças que nós nos encontramos? ou seja, e se for a partir do conflito com aquilo que é diferente dos padrões criados para a normalidade, sobretudo na era moderna, que nós temos um encontro com nós mesmos?


É esse um dos papéis que a cidade assume enquanto objeto de estudo. É a partir de onde nós não nos reconhecemos que os olhares se voltam para o que somos. E quem nós somos? Com o que não parecemos? O que nos choca? O que nos provoca abalo moral? O que nos ofende?


Para falar sobre filosofia e arquitetura, Schulz recorre ao modelo da polis grega inspirada no pensamento platônico, ou seja, um modelo que tem como fundamento a tentativa de controlar os ambientes construídos, de desenvolver estratégias de ordem e domínio do espaço. Até o séc. XIX os modelos de cidades seguiam diagramas geométricos, traçados retilíneos ou esquema radial centralizado. Eram criados padrões de controle, permanência, previsibilidade, os espaços foram socialmente hierarquizados e esperava-se que nenhum comportamento diferente disso pudesse aflorar.


Em meio às cidades concretamente construídas e às ruas projetadas, a tentativa de excluir as diferenças, neutralizar o espaço e anular as possibilidades não foram suficientes, e a diferença é rotulada como patogenia como última tentativa desesperada para deslegitimar aquilo que alguns filósofos, como Kant, já sinalizavam. Kant desvincula a estética do mundo inteligível idealizado pela era iluminista, e inaugura a modernidade filosófica abrindo caminhos para a filosofia da diferença, assim como schopenhauer, nietzsche, Bachelard, Foucault, Deleuze, entre outros.


Sendo assim, agora é possível pensar na estética urbana como resistência, como libertação dos códigos de comportamentos pensados para o homem moderno. Hoje o pensamento urbanístico pode e deve abraçar as diferenças que não eram contempladas antes: LGBT’s, mulheres, negros, índios, populações em vulnerabilidade social. Em suma, a cidade celebra o pluralismo e transpõe os limites disciplinares.


A experiência estética da cidade nos convida para o confronto com o diferente, um mergulho para dela extrair e contemplar os mundos diferenciais que as definem. Dessa forma, é possível pensar novas rotas, novos horizontes entre identidades e confrontos. Novos critérios para estetizar a cidade no século XXI.


Convido-os a ler “Estéticas Urbanas”. Boa viagem!


Bibliografia:

SCHULZ, Sonia Hilf. Estéticas Urbanas: da polis grega à metrópole contemporânea. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

 
 
 

Comments


21314869_1276685069127605_35091745105455

Amanda de Almeida

Graduada em Eng. Civil pela Universidade Federal de Campina Grande/UFCG. Mestranda em História/UFCG na área de Patrimônio Histórico e Cultura, Monumento e Memória. Apaixonada por livros, pela rebeldia, pela inovação, pelo espontâneo e pela (des)construção do saber.

Início: Sobre
Início: Contact
  • facebook

©2018 by Biblioteca da Cidade. Proudly created with Wix.com

bottom of page